quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Arlindo Machado e o Web-Cam

Texto de Pedro Bruno

Web-Cinema: A explosão digital juntamente com a ofensiva devastadora da internet mudaram os padrões de produção e distribuição de conteúdos audiovisuais. Mas a rede mundial de computadores ainda luta com seu próprio dilema, seria ela apenas uma plataforma democrática de distribuição ou seria, também, um sistema de inovação das mídias? Pensando nisto, achei esta entrevista de Arlindo Machado para o site Justoaqui. Nela, o professor fala de diversas questões como Web-Cinema, Interatividade e novas tendências e estéticas do conteúdo audiovisual para a internet.

Qual Será A Cara Do Cinema Na Web?

Entrevista com Arlindo Machado, professor e especialista em cinema e linguagem das novas mídias que nos explica o que anda acontecendo com o cinema na Internet.

BD >> As novas tecnologias estão permitindo que se tenha acesso a filmes de todos os formatos, gêneros e qualidades a partir do seu desktop. A maioria dos filmes na Internet não foram feitos ainda se pensando na linguagem mais apropriada para a transmissão e o próprio meio. Qual é a linguagem do cinema na rede?

Arlindo Machado >> Hoje fala-se muito de cinema na web, televisão na web, rádio na web. É preciso que fique claro, antes de mais nada, que um produto audiovisual concebido especificamente para a rede não é mais cinema, nem televisão, nem rádio, pelo menos não no sentido em que hoje entendemos esses meios. Há uma diferença entre um filme, um programa de TV, ou uma música simplesmente disponibilizados na rede e uma forma audiovisual adequada para o meio telemático. Essa forma, que ainda não existe, está sendo ainda experimentada, terá que receber um novo nome, será alguma coisa de outra espécie. Hoje, a maioria das pessoas assiste a filmes na televisão, mas nem por isso se pode dizer que cinema é televisão. Assim também, um filme não vira web-cinema só porque está sendo difundido na rede. A Web parece ser um meio de distribuição e arquivo ideal para filmes de curta ou curtíssima duração e é nesse sentido que ela está sendo utilizada.

BD >> Nos anos 80, já se falava num novo conceito de cinema: o eletrônico. Nos anos 90 foi o boom do digital.Como você vê estas transformações hoje? Qual é o cinema que você imagina para o futuro?

Arlindo Machado >> Prefiro acreditar que os vários meios diferentes - cinema, vídeo, televisão, multimídia - estão convergindo em direção a um meio novo, que será único, mas plural. Esse novo meio resgatará todas as conquistas de linguagem dos meios anteriores, mas os atualizará num novo ambiente, ao mesmo tempo em que irá acrescentar recursos que são próprios apenas dele. Esse novo meio não precisará ter uma fisionomia única. Ele poderá aparecer sob mil formas diferentes, ter uma imensa variedade de gêneros e estilos, como hoje já acontece com a televisão. Tem gente ainda pensando o cinema na Web apenas como narrativa de ficção, mas imagino que esse cinema poderá, em alguns casos, assumir formas mais próximas do vídeo-game, em outros mais próximas das atualidades e do telejornal, em outros ainda mais relacionadas com o video-clipe ou o documentário. O que mais me excita, porém, é imaginar formas de audiovisual inteiramente novas, que não foram sequer suspeitadas antes, como já é o caso das web-câmeras, que ficam permanentemente ligadas em algum lugar, transmitindo imagens e sons ao vivo de tudo o que acontece ali, seja real ou ficção.

BD >> Você acha que a Internet é só um meio de distribuição mais democrático ou acredita que há um potencial para gerar novos meios do fazer artístico. Quais e como seriam estas artes nascidas e pensadas para Internet?

Arlindo Machado >> A Internet, como a televisão, pode ser as duas coisas. Pode ser usada apenas para distribuir filmes, livros ou músicas que foram concebidos para outros meios, ou pode dar nascimento a uma linguagem nova, com produtos pensados exclusivamente para ela. Uma das características atuais da Internet é que ela funciona como um gigantesco banco de dados, onde se pode entrar em busca de informações. Qualquer produto pensado para a Internet vai ter de lidar com essa metáfora do banco de dados. Por exemplo, um programa de televisão na Web não pode mais ser concebido para horários e dias específicos. Ele vai ficar armazenado numa memória de computador e o espectador poderá vê-lo quando quiser. A novela das oito poderá portanto ser assistida às cinco da manhã, se o espectador quiser. Assim também, um filme na Web não precisará ter uma forma definida. O espectador poderá escolher, dentre as várias opções armazenadas num computador, a sua duração, o desenrolar de seus acontecimentos, os ângulo de câmera, o sexo do protagonista principal, a quantidade de acidentes ou infortúnios que vai sofrer ao longo da história, etc.

Link da entrevista: http://www.justoaqui.com.br/festival/whats1.htm (parte 1)
http://www.justoaqui.com.br/festival/whats2.htm (parte 2)

Link para o Justoaqui: http://www.justoaqui.com.br/

Opine: Estas novas diretrizes serão benéficas para o Cinema Pós-Moderno?

Nenhum comentário: