terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Greenaway no Video Brasil

Por Luiz Romero:

A performance multimidiática de Peter Greenaway que abriu o Vídeo Brasil é o ponto de analise aqui proposto. A apresentação ocorreu num cruzamento da avenida Paulista na altura do Sesc, ao ar livre, onde quatro telões foram dispostos, três de um lado da rua e outro do lado oposto. O artista britânico estava acompanhado do DJ Serge Dodwell que disse não ter feito nenhum ensaio prévio para tal dia. Quanto ao aparato que utilizava Peter estava munido de alta tecnologia diferente das suas experiências videoartisticas. Em uma grande tela sensível ao toque, Greenaway selecionava os mais de 2000 fragmentos do “The Tulse luper Suitcases” um dos seus filmes mais recentes com 7 horas de duração. O estranhamento inicial da performance perdurou durante e também depois a aqueles que se arriscaram preencher as lacunas propositalmente semeadas por Greenaway na cabeça do público.

Ao andar da apresentação Peter e o DJ buscavam um equilíbrio jazzístico, porém ao contrario dos bons improvisos de Jazz que sabem lidar com a simplicidade, o artista britânico parecia estar montando um novo trailer a cada dez minutos servidos sonoramente por grandes caixas de som em alto volume. Ele queria deixar clara a sensação oceânica do inusitado, entretanto corria, a ponto de querer se apossar do imprevisível. Foi ai que a imagem se confundiu com pirotecnia, na minha opinião.

O bombardeio audiovisual fazia oscilar a atenção daqueles ali presentes, às vezes as imagens de Peter ficavam em primeiro plano, as vezes o som do DJ. O improviso fragmentou a ação de Vídeo Joquer e Disco Joker e “redistribuiu” entre Peter e Dodwell à medida que as atualizações iam sendo feitas. Em momentos de picos de BPM na música e em frenesis imagéticos a recepção perceptiva do espectador era em um nível sensorial, sem tempo de processar e constituir uma “uma postura intelectual”.

Os Estudos de Peter Greenaway a respeito da pintura se mostram claramente em suas obras principalmente quando subverte com propriedade os princípios fundamentais do cinema, aquilo que ele chama de “ditadura do quadro e da tela”, certamente ele o faz com notoriedade graças aos seus conhecimentos em artes plásticas. Voltando ao episódio aqui em questão Greenaway afirmava uma certeza imagética à medida que ia desdizendo através de fragmentos inseridos no quadro e assim criando uma coreografia de imagens. As 92 malas de Tulse Luper iam demarcando o testemunho do “alter-ego ficcionado” assim podemos chamar esse personagem da trilogia de greenaway.Que passou parte da vida em prisões e desapareceu em 1989, mais do que “narrar” a vida de tal personagem, Greenaway propõe a implosão do conceito de cinema. Aterrisando no país com a polêmica frase de que “o cinema está morto”.

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